segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CARIRI - Fotógrafo lança novo olhar sobre as romarias - Reportagem: Antonio Vicelmo


O fotógrafo dadá Petrole fez mais de 500 fotos dos romeiros e do ambiente, ao longo da estrada. Destas, apenas 30 serão aproveitadas no livro que publicará.

O fotógrafo cratense Dadá Petrole está de volta ao Cariri, para concluir trabalho que se transformará em livro. Crato. Cada dia que passa, novas câmeras fotográficas são lançadas no mercado, com capacidades, efeitos e tecnologias para facilitar a vida dos amadores da fotografia. Porém, nenhum instrumento substitui a sensibilidade do fotógrafo, que vê o mundo em detalhes, muito mais com o coração do que com as lentes de uma máquina. É com esta visão emocional que o fotógrafo Dadá Petrole lança um novo olhar sobre as romarias do Padre Cícero. Depois de ser premiado como um dos melhores trabalhos fotográficos de "design" dos países de língua alemã, com o projeto ´Moderatrix", o fotógrafo cratense Dadá Petrole está de volta ao Cariri, nas carrocerias de caminhões paus-de-arara, carregados de romeiros, com o objetivo de concluir um trabalho que será transformado em livro, sobre o comportamento e os rituais destes nordestinos que saem de seus lares, empurrados pela fé, em busca de Juazeiro que, para eles, é a nova Canaã, a terra prometida por Deus aos hebreus.

É um documentário sobre os romeiros. A cultura, a tradição, o imaginário popular e a questão social são os aspectos pesquisados para a formulação da concepção desse trabalho. "É um livro de fotografia que mostra a realidade nua e crua e, ao mesmo tempo, o sentimento de fé e alegria dos devotos do Padre Cícero", diz o fotógrafo. A primeira carona ocorreu no interior da Bahia, mas o caminhão apresentou problemas logo na saída. O segundo pau-de-arara estava muito cheio. Ele teve que mudar para um terceiro veículo que, segundo afirma, foi mais interessante porque transportava romeiros típicos de uma comunidade, localizada entre os Estados da Bahia, Pernambuco e Piauí. Eram nordestinos rústicos que tinham dificuldades de socialização com outras pessoas. A presença do fotógrafo os intimidava. Com o passar das horas, eles foram se familiarizando com o "cristão novo" que se integrava ao grupo.

O que chamou mais a atenção do fotógrafo foi a solidariedade entre eles. "É um exemplo de partilha, companheirismo e alegria". Dadá acrescenta que, além dessa solidariedade, eles cantam e rezam. A refeição é feita nas paradas no meio da estrada. A maioria traz de casa farnéis com farinha, rapadura, pão e batida. O clima é de satisfação entre eles. Nem mesmo o fotógrafo se cansou durante a viagem, onde ele fez mais de 500 fotos dos romeiros e do ambiente, ao longo da estrada. Destas fotos, apenas 30 serão aproveitadas para o livro que será publicado. O trabalho teve continuidade em Juazeiro, onde ele acompanhou os rituais dos romeiros nos locais que eles consideram "sagrados". A odisséia dos romeiros no caminho para Juazeiro é o novo projeto desse cratense que fez da máquina fotográfica, não somente um instrumento de trabalho, mas, principalmente, um meio de comunicação social. A linguagem da fotografia usada por Dadá Petrole não é de uma foto convencional, jornalística ou documentária. É o retrato do inusitado que mistura tradição com modernidade.

Visão surrealista

A seca, o agreste, a Caatinga, a Serra do Araripe, os fósseis e a gente simples do sertão são contrastados com os últimos lançamentos da moda. É dentro dessa visão surrealista e contemporânea, que o fotógrafo mostra o Cariri para o mundo. Ele diz que estas paisagens estão muito presentes no seu trabalho por conta de suas origens.

Dadá Petrole nasceu no Crato com o nome de Adailton, transformado no meio familiar em Dadá, apelido que foi oficializado como nome próprio. Estudou em escolas públicas. Como seu pai, eletricista, não possuía casa própria, ele percorreu seis grupos escolares da cidade. Formou-se em Letras pela Universidade Regional do Cariri. Esta vida nômade, numa cidade do Interior do Ceará, contribuiu para sua formação profissional. Arrastado por uma paixão por uma alemã, ele foi para a Alemanha, onde se formou em "design" da mídia, com especialidade em fotografia. No próximo ano, ele inicia doutorado na área de fotografia e educação. Em casa, ele montou um laboratório fotográfico para revelação de fotos em preto e branco.

Antônio Vicelmo
Repórter do Jornal Diário do Nordeste
Colaborador do Blog do Crato e Jornal Chapada do Araripe

Um comentário:

Pachelly Jamacaru disse...

Importante colaboração do Dihelson ao postar esta não menos importante matéria do Vicelmo sobre o Dadá, que é membro do Zoom, mas que por qual motivo não sabemos, ainda não nos pretigiou com o seu valoroso trabalho!

Valeu Dihelson, parabéns Vicelmo e Dadá!

Ainda continuo sem o meu Noot.

Abraços