quinta-feira, 18 de março de 2010

ENTREVISTAS-ZOOM: Allan Bastos

O Zoomcariri inaugura um novo quadro, “ENTREVISTAS” que é o olhar e o pensar dos nossos fotógrafos. Num curto espaço de tempo, estaremos renovando os entrevistados. Isso nos possibilitará conhecer nossos talentos e ao mesmo tempo criar um acervo de entrevistas que posteriormente possa servir como um documento memória da nossa fotografia.

Nosso primeiro convidado é dono de um vasto currículo e de uma sensibilidade ímpar! Mas são eles que dizem o que pensam, nós do Zoomcariri, lhes damos a palavra!

Allan Bastos. 33 anos, cratense, fotografa desde adolescência e em 1998 na Escola de Fotografia do Movimento Pró-criança em Recife dirigiu e editou o livro Recife debaixo das pontes, publicado pelo UNICEF e Criança Esperança com fotos das aulas que ministrou de fotografia em preto e branco na ONG. Ainda em Recife fotografa pra assessoria de imprensa da Fundação Joaquim Nabuco, Rádio Transamérica, TV jornal e conclui o curso de Administração em Marketing. Volta para o Cariri em 2005 e se dedica aos retratos de pessoas e fotografia documental do patrimônio imaterial da região.


01 - O que te fez fotógrafo?
Alguns fatores me fazem ser fotógrafo, o comportamento de quem fotografa é um deles. Gosto dessa dedicação, o como fotografa, a legitimidade e a ética de quem trabalha com imagens, principalmente com fotos de pessoas. Mas, existe uma relação no ato fotográfico que pra mim é o que faz o maior sentido em fotografar. Essa relação, o encontro entre eu e quem eu fotografo. Preciso de gente para fotografar e esse encontro, esse tempo fotográfico é o que me fasina. Eu gosto de ser percebido pelo fotografado e quero sempre vê a reação de quem estou fotografando. É como uma licença dada pela pessoa fotografada, uma afinidade, uma resposta. E venho percebendo bem mais isso hoje. Fotografo gente desde adolescência e sempre procurei que na construção dos momentos fotográficos fossem meu e de quem fotografei. São poucas as fotos que fiz, onde a pessoa não me viu. De qualquer forma dou um jeito de mostrar que estou ali, pronto para fotografar.

02 - E o que fotografa Allan Bastos?
Gente. Pessoas estão presentes no meu olhar. Hoje quero só fotografar e já sabendo onde a minha fotografia vai chegar. Quero construir um documento do Cariri, das festas populares, da cara do povo, do que elas fazem, da condição humana, e depois quero mostrar, expor e publicar. Comecei a fotografar no Crato, e desenvolvi a minha fotografia em Recife. E sempre perguntavam, Allan e as fotos do Cariri, cadê? Voltei a morar aqui para que eu pudesse passar um tempo dedicado ao que acontece no Cariri, desde 2005 que estou presente, fotografando nas cidades as pessoas, as festas populares e outros eventos da cultura.

03 - O que dar prazer em fotografar?
O maior prazer que eu descobri em todos esses anos, foi o de mostrar, de expor. Fotografar já é a minha mesmo, sem obrigação nenhuma! Mas, levar as minhas fotografia ao expectador, isso sim é o que me faz perceber que fiz algo, que meu trabalho foi visto pro alguém e as fotografias instigou o expectador a uma leitura. Fiz minha primeira exposição individual em 2008 no Coletivo Malungo, com foto de pessoas nuas, intitulada Repetições. Gostei da narrativa entre eu, a fotografia e o expectador. Nesta exposição realmete conceguir o que eu queria, propor uma repetição dos corpos alheios, e a reação do público fez com que eu pensasse no que realmente a obra fotográfica representa, no poder da arte, no poder de fazer pensar, discutir. É muito boa a sensação de fazer o expectador entrar no meu trabalho. Quando vi isso, entendi a poética escrita.

04 - Qual o poder de uma foto no seu entender?
O poder de ter sido feita, acontecida. A foto faz o testemunho do existido. É documento. O poder da foto tem o poder histórico. O poder da construção de quem fez. Mesmo fotos que brinquem com o imaginário têm o poder do momento que ela foi feita, em uma epata da história. Mas, ainda maior que isso, é o poder da interpretação, da comunicação, do dialogo. Se isso acontece, acontece o poder da imagem.

05 - Você realizou um curso sobre pinhole, como foi a experiência?
Aprendi pinhole com Jesuel Satana, um aluno da escola de fotografia do Movimento Pro Criança, onde eu dava aulas de fotografia. Jesuel, sempre aparecia com novidades, ate chegar das aulas de laboratório preto e branco com fotos pinhole. Aprendi. Mas, só experimentei e desenvolver essa técnica de fotografar aqui no Cariri, quando comprei câmera digital e passei a fotografar menos com filmes. Hoje faço fotos pinhole em latas e caixa de fósforo. O curso aconteceu no centro cultural BNB - cariri, na ong verde vida, e no CCBNB de Sousa, esse ultimo com pinhole na caixa de fósforo, onde se usa dois filme fotográficos e uma caixinha fiet lux, muito bom o resultado e fácil de fazer. Viajei pro Peru e Bolívia, fotografando pinhole, incrível o resultado e to montando uma edição pra mostrar ainda esse ano o ensaio.

06 - Como você encara a realidade digital!
Vejo como parte do processo evolutivo do reter a luz no equipamento. É a grande popularização da fotografia. Todos fotografam, toda família tem câmera, crianças tem acesso a equipamentos e a produção de fotografia no mundo é a que mais impressiona pela quantidade. E pensando como fotografia ecologicamente limpa, imagine o que poupamos de papeis, químicos que antes eram usados para se ver uma fotografia e hoje não temos mais isso. O quanto ganhamos de fotos e o que a natureza ganhou também.

07 - Como você ver a fotografia no Cariri?
O Cariri esta na rota dos fotógrafos. Quem fotografa o Brasil passa por aqui, isso já deixa presente no cotidiano do Cariri uma forte presença da fotografia, sempre tem gente procurando imagens na região, principalmente nas romarias do Padre Cícero. A história da fotografia do Cariri é muito atraente. Temos as fotos de Gonzaguinha em 1920. A foto mais conhecida de Lampião foi feita por Pedro Maia do Crato, em 1927. Julio Saraiva e Edilson Rocha desenvolve a fotografia com o Foto Saraiva e passando pelo celebre trabalho da fotopintora Telma Saraiva com importante registro das pessoas do Cariri. Na contemporaneidade vejo que tem expressividade e tem muita gente fotografando. O Cariri ganha com isso, o registro da nossa região ta bem cuidada.

08 - Uma mensagem para o Zoomcariri!
Uma mensagem para o Zoomcariri! Trabalhos na área de artes visuais têm que ser construídos com responsabilidade. Trabalhar com registro é importante para sociedade, o que fotografamos fica como verdade para o futuro. O tempo presente fotografado vira passado depois do clic, vira história. História.

Fim.

4 comentários:

Calazans Callou disse...

Parabéns Allan, belas fotos. Gostei do seu ensaio fotográfico do Cleyton Barros na página dele.

Abraço, camarada.

Dihelson Mendonça disse...

Parabéns ao Pachelly pela excelente entrevista. Parabéns Allan Bastos.

Abraços,

Dihelson Mendonça

Pachelly Jamacaru disse...

Calazans voc por aqui, legal viu! Abração rapaz!

Obrigado Maestro e fotógrafo Dihelson, não esqueça que ainda queremos vc neste quadro, ok?

Abraços

Anderson Freire disse...

Muito boa entrevista - tive oportunidade de conheçer allan em Recife junto ao meu "mestre" Elvio Luiz, e deis de então admiro o trabalho e a pessoa que é allan
abraço